domingo, 3 de fevereiro de 2019

100 anos do Pacto - Ir. Anna Maria Parenzan

Ao celebrarmos, em janeiro de 2019, o centenário do “Pacto”, é importante reevocar a experiência de pobreza e abandono à Providência, vivida pelas nossas primeiras irmãs e primeiros irmãos. De fato, a pobreza dos inícios não era apenas econômica, mas também de pessoas, cultura, saúde, meios, apreço, estima. 

Ninguém acreditava no projeto de pe. Alberione. Ele mesmo confidenciava aos primeiros meninos: Desde o dia de sua fundação, a nossa Casa passou por muitas tempestades e o fato de sempre ter-se saído bem é um sinal certíssimo de que Deus quer esta obra de nós; todos, e especialmente eu, fomos acusados de ser ladrões.... fomos denunciados à Santa Sé, mas Deus nos salvou. Até pessoas boas não nos entendem e falaram mal da Casa; sei que cada um de vocês, antes de ingressar na Casa, ouviu críticas e muitos tiveram de lutar realmente contra verdadeiras e graves dificuldades... As tempestades são necessárias para nos tornar humildes e recordar-nos que somente Deus é o Senhor... (Giaccardo, Diário, 8 de dezembro de 1917). 


Fé totalmente excepcional, confiança na Providência, certeza de ser guiados em todos os momentos pela mão paterna de Deus, ritmavam o clima da “Casa” desde os tempos da fundação.

Em 07 de janeiro de 1919, Giaccardo escreveu com profunda admiração: “Quando o Pai fala da confiança na Divina Providência, parece que não consegue terminar o sermão; ele  mesmo diz que as palavras lhes saem inflamadas como as sente no coração...”. É uma confiança muito concreta que se confia com a simplicidade da criança: “Colocamos o contrato da Linotype aos pés de Jesus, e Jesus a pagou” (Diário, 5 de março de 1919). Após quase quarenta anos, o Fundador recorda aqueles  tempos heroicos: 

Às vezes, as necessidades eram urgentes e graves. Todos os recursos e esperanças humanos desapareciam: rezava-se e se procurava evitar o pecado e toda falta contra a pobreza: e soluções inesperadas, dinheiro vindo de estranhos, empréstimos oferecidos, novos benfeitores e outras coisas que ele jamais conseguiu explicar...; os anos passavam e as previsões de falência certa, as acusações de loucura... desapareciam e tudo se resolvia, até com fadiga, mas em paz (AD 166). 

Naquele contexto de fé incondicional, surgiu o “Pacto” ou “Segredo de êxito”. A primeira notícia documentada é de 7 de janeiro de 1919. Giaccardo escreveu em seu diário: Ontem à noite, o querido Pai convidou-nos a fazer um pacto com o Senhor. 

O pacto que ele fez: estudar por um e aprender por quatro. Esta manhã, na meditação, reafirmou a importância, os fundamentos, as condições, o convite. A sua palavra era ardente, plena de convicção e persuasiva. Os fundamentos são: a confiança em Deus que prometeu conceder sabedoria a quem lha pedir... 

A complacência de Deus por quem se confia n’Ele. A vontade de Deus que esta Casa exista e prospere: e a nossa impossibilidade de estudar quanto ordinariamente é necessário para aprender. Confiança é o que falta no mundo, o que o querido Pai ainda não encontrou em ninguém...

O Pacto não é somente uma oração... é um ato de fé comunitário, expressão da aliança com Deus, convicção que a graça da vocação é dada a nós, que somos: fracos, ignorantes, insuficientes e incapazes em tudo porque, de acordo com a experiência do apóstolo Paulo, o poder  de Cristo habita em nós (cf. 2 Cor 12, 9), poder que se manifesta plenamente na fraqueza.

Através do Pacto, pe. Alberione insere a si mesmo e a nascente Família Paulina no caminho dos pobres e dos pequenos dos quais fala o Evangelho, ou seja, na via daqueles que colocam Deus e sua Providência em primeiro lugar, acima de tudo. 

Citando as palavras do “querido Pai”, Giaccardo escrevia: Deus colocou em nós um infinito, chama -vos a uma altíssima santidade, mas Ele quer fazer, trabalhar com seus braços porque a nossa Casa vive da Providência. A ofensa mais grave que Deus recebe da nossa Casa é a falta de confiança n’Ele, pois é Ele quem faz tudo, nós somos insensatos e ignorantes se não confiarmos n’Ele (Diário, 26 de janeiro de 1919).


«Buscar o reino de Deus... apoiar-nos somente  em Deus»  é o refrão reiterado muitíssimas vezes pela Mestra Tecla. Dizia às Filhas, numa conferência, em maio de 1928:

 Portanto, coloquemos todas as nossas misérias, nossos defeitos nos fundamentos, e confiemos somente em Deus, apoiemo-nos  n’Ele. Aquelas que virão depois de nós basta que continuem em Deus, mas nós devemos apoiar-nos somente n’Ele... 

“Confiar somente em Deus...”, isto é, colocar total confiança no Senhor, dar-lhe, com convicção, o primeiro lugar, confiar em sua pedagogia, desejar ardentemente uma relação constante e profunda com Ele, anunciando-o como verdadeira fonte de justiça, de paz, de felicidade: estes são os pré-requisitos para que o Pacto continue operando em nossa família religiosa aqueles milagres de apostolado, de vocações, de santidade, que nossos pais e nossas mães foram testemunhas na fé.

Ir.  Anna Maria Parenzan
Superiora Geral 
Filhas de São Paulo

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