Leitura Orante

Lectio Divina

HABITADAS
PELA
PALAVRA
Francesca Pratillo, fsp

Quem habita a casa da nossa vida?
 Pensamentos,desejos, preocupações, projetos,
fantasias, dificuldades de relacionamento,
cansaços e, dessa forma, nos damos conta,
sem muito esforço, de que a Palavra de Deus
ainda não ocupa o espaço que desde sempre
lhe pertence. Marginalizada, permanece em
silêncio, sem gritar, sem opor resistência, esperando
voltar um dia à sua casa, como proprietária
e senhora.

Como devolver à Palavra a sua propriedade?
Como se tornar a árvore que dá frutos em
qualquer estação? (cf. Sl 1,3). Como atingir a
meta a nós proposta pelo apóstolo das gentes:
«Não sou mais eu quem vive, mas Cristo
vive em mim»? (Gl 2,20). 

Como evitar que Deus seja esquecido numa vida consagrada
ao anúncio da sua Palavra? (cf. Dt 6,12; 8,11).

A estrada não é fácil, muito menos espaçosa,
mas possível de ser trilhada. Possível para
quem nutre no coração o desejo de voar alto,
para quem compreendeu o imenso dom da
Palavra, porque Deus oferece a sua ajuda a
quem lhe pede e concede a graça ao humilde
que deseja escutá-lo.

Nas nossas cidades, além do ar poluído, respiramos
diariamente milhares de palavras
poluentes, que não permitem ao nosso coração
encontrar o seu centro de equilíbrio, de
força e entusiasmo. 

O antídoto proposto pela
mesma Escritura, que hoje nos chega pela
voz da Igreja, é de respirar a Palavra. Só assim
conseguiremos transfigurar e tornar únicos
e divinos os nossos dias, às vezes monótonos
e desperdiçados.

 Nossa vida verdadeira
começa quando entramos em contato com a
Palavra, e isso se torna possível no itinerário
da lectio divina. A vida consagrada «nasce
da escuta da Palavra de Deus, para se tornar
uma “exegese” vivente e fulgurante da Palavra
de Deus» (VC 94). 

Quando a Palavra habitar
o nosso coração, o nosso respiro, a nossa
mente, as nossas palavras diárias, a nossa
comunicação não verbal, os nossos humildes
gestos de serviço e de amizade seremos o
perfume de Deus no mundo. Hoje, mais do
que nunca, a Palavra pede para escolhermos
entre a superficialidade e a profundidade,
entre o individualismo e a fraternidade, entre
o vazio e a Presença, entre a soberba e a
humildade, entre o ser portadora do nada e
o ser comunicadoras do Tudo.

Trata-se de revelar ao mundo a Beleza que salva:
aquela emanada do rosto de Cristo, Palavra
eterna do Pai. A humanidade está desorientada
por mil propostas que não trazem a
Verdade.
O Bem-aventurado Tiago Alberione tinha
entendido e por isso desejou que o objetivo
da Família Paulina fosse bem claro: fazer
a todos a caridade da Verdade. Não se trata de
uma Verdade a ser aprendida, mas de uma
Verdade a ser amada e vivida, uma Verdade
que repara a imagem distorcida de Deus no
coração das pessoas. Uma missão empenhativa
semelhante à missão de Maria de Nazaré:
mulher habitada totalmente pela Palavra. A
Verdade encontrou em Maria a sua casa, a
sua tenda, o seu ventre fecundo, o coração
virginal.

Para essas alturas é que Deus nos chama e
coloca cada dia em nossas mãos a Verdade
da Palavra de Deus que, na lectio cotidiana,
se torna Pão do caminho e Luz do futuro. 

entrar na escuta atenta e obediente da Palavra
viva, o meditar e ruminar a sua mensagem, o
rezar e dialogar com os seus exigentes pedidos,
o contemplar e ver os seus caminhos na
história dos homens torna-nos habitação de
Deus, vento perfumado do Espírito.


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