segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Dia de finados - Homilia Pe. Antonio Lúcio, ssp


Estamos reunidos aqui hoje nesta manhã do dia 2 de novembro, comemoração de todos os fiéis defuntos, precisamente no Jazigo das Irmãs Paulinas, onde repousam os restos mortais de muitas Filhas de São Paulo, que consagraram suas vidas e foram fiéis até o fim na missão de evangelizar na cultura da comunicação. Agora, do céu, elas continuam a interceder por nós, membros da “Família Paulina da terra”. O que fazemos aqui neste Jazigo todos os anos no dia de hoje, Finados, acontece desde os primórdios da Igreja, quando os cristãos, seguindo o costume dos gregos e romanos, sepultavam os fiéis falecidos e rezavam por eles.
Provavelmente muitas de vocês, Irmãs Paulinas, que aqui estão hoje, um dia habitarão este Jazigo. Aqui é a vossa última comunidade terrena. Um dia, determinado por Deus, vocês receberão a vossa última transferência quer a aceitem ou não. E ainda por cima serão conduzidas até aqui por outrem.
A Igreja nos convida hoje, dia 2 de novembro, a relembrar os fiéis defuntos, a dirigir nosso olhar para tantos rostos que nos precederam e concluíram a sua peregrinação terrena. Nesta reflexão, fui inspirado pelo Papa Francisco, e gostaria de propor a vocês alguns pensamentos singelos sobre a realidade da morte, que, para nós, cristãos, é iluminada pela Ressurreição de Cristo, a fim de renovarmos a fé na vida eterna.
Em Finados, vamos ao cemitério, como estamos fazendo agora, para rezar pelas pessoas queridas que partiram. Fazemos uma visita aos túmulos e jazigos de nossos entes queridos ou coirmãos e coirmãs de Congregação para expressar, mais uma vez, o nosso afeto, o nosso carinho e a nossa saudade, recordando também, deste modo, um artigo do Credo: creio na comunhão dos santos! Há um vínculo estreito entre nós, que caminhamos nesta terra, e os muitos irmãos e irmãs que já alcançaram a eternidade.
Embora a morte seja um tema quase proibido em nossa sociedade, em muitas famílias e comunidades religiosas, ela afeta diretamente a cada um de nós; ela afeta as pessoas de todos os tempos e de todo lugar. E diante deste mistério, todos, mesmo inconscientemente, procuramos algo que nos convide a esperar, um sinal que nos dê consolo e conforto, que abra algum horizonte, que ofereça um futuro. O caminho da morte, na verdade, é um caminho de esperança, e percorrer os nossos cemitérios, e ler as inscrições nas lápides, é percorrer um caminho traçado pela esperança de eternidade.
Mas por que tememos a morte? Por que a humanidade, em sua maioria, nunca se resignou a crer que depois dela não haja simplesmente nada? Eu diria que as respostas são muitas: tememos a morte porque temos medo do nada, desse partir rumo a algo que não conhecemos e dominamos. E existe em nós um sentimento de rejeição, porque não podemos aceitar que tudo o que de belo e de grande foi realizado durante toda uma existência seja eliminado de repente, caia no abismo do nada. Acima de tudo, sentimos que o amor exige eternidade, e não é possível que ele seja destruído pela morte num único instante.
Também temos medo diante da morte porque, quando nos encontramos no final da existência, existe a percepção de que há um juízo sobre as nossas ações, sobre o modo como levamos a vida, especialmente naqueles pontos sombrios que, com habilidade, sabemos retirar ou tentamos retirar da nossa consciência. Podemos captar isto na maior parte das culturas que caracterizam a história dos vários povos e raças no decorrer dos séculos.
Hoje o mundo se tornou, pelo menos aparentemente, muito mais racional, ou melhor, difundiu-se a tendência a pensar que toda realidade deve ser vista com os critérios da ciência experimental, e que também a morte deve ser respondida não a partir da fé, mas de conhecimentos empíricos. Nestes momentos Jesus, senhor dos vivos e dos mortos, vem ao nosso encontro e socorro e nos garante: “A vontade do meu Pai é que toda pessoa que vê o Filho e nele crê tenha e vida eterna. E eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6,40).
A Solenidade de Todos os Santos e Santas que celebramos ontem, dia 1º de novembro, e a Comemoração dos Fiéis Defuntos, que estamos celebrando agora, nos dizem que só quem pode reconhecer uma grande esperança na morte pode também viver uma vida a partir da esperança. Se reduzimos a pessoa exclusivamente àquilo que podemos perceber empiricamente, a própria vida perde o seu sentido profundo. A pessoa precisa da eternidade, e qualquer outra esperança para ela é breve demais, limitada demais.
A pessoa pode ser explicada somente se existe um Amor que supera todo isolamento, inclusive o da morte, numa totalidade que transcende também o espaço e o tempo. A pessoa pode ser explicada, ela encontra o seu sentido mais profundo, só se Deus existe. E nós sabemos que Deus saiu da sua lonjura e se fez próximo, entrou em nossa vida e nos disse: “Eu sou a Ressurreição e a Vida. Quem crê em mim, mesmo morrendo, viverá: e todo aquele que vive e crê em mim não morrerá jamais” (Jo 11,25-26). E também voltam à nossa mente as palavras do Mestre com renovada clareza: “Não se perturbe o vosso coração, tendes fé em Deus; tende fé em mim. Na casa do meu Pai há muitas moradas. Senão, eu não vos teria dito: 'Vou preparar-vos um lugar’” (Jo 14,1-2). 
Deus tornou-se acessível ao ser humano, amou tanto o mundo, “que deu o seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16). E mais: “A prova de que Deus nos ama é que Cristo morreu por nós quando ainda éramos pecadores” (Rm 5,8). E no supremo ato de amor da cruz, submergindo-se no abismo da morte, venceu-a, ressuscitou e abriu também para nós as portas da eternidade. Cristo nos sustenta por meio da noite da morte que ele mesmo atravessou; é o Bom Pastor, sob cuja guia podemos nos confiar sem temor, já que ele conhece bem o caminho, também atravessou a escuridão da morte.
Em cada Celebração Eucarística de que participamos, recitando o Credo, reafirmamos esta verdade. E, ao visitar os cemitérios para rezar com carinho e amor pelos nossos defuntos, somos convidados, mais uma vez, a renovar com coragem e força a nossa fé na vida eterna; e mais ainda: a viver com esta grande esperança e a dar testemunho dela ao mundo: depois do tempo presente, não está o nada. 
Concluo agradecendo a Deus o dom que foi cada coirmão e cada coirmã da nossa “admirável Família Paulina” do Brasil falecidos, especialmente a Irmã Bartolomea Machado, Filha de São Paulo, falecida no dia 30 de agosto deste ano e que, do céu, intercedem por todos nós. E que bom será se na hora da nossa partida tivermos condições de repetir como fez Santa Teresinha do Menino Jesus: “Não morro, entro na vida”.
E com as palavras do Bem-aventurado Pe. Tiago Alberione, peçamos com fé: 
“Senhor, bondade infinita, 
concedei-nos crescer sempre mais na caridade, 
a fim de que, atingindo a plenitude, 
possamos um dia contemplar-vos face a face, 
para sempre, no céu!”. 
Assim seja!

Pe. Antônio Lúcio, ssp
Jazigo das Irmãs Paulinas
São Paulo, 2 de novembro de 2014
Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos
HOMILIA DE FINADOS

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