terça-feira, 17 de agosto de 2010

Retiro pelo método Verdade, Caminho e Vida

Cinco pães e dois peixes
Este Retiro é motivação pela multiplicação dos pães e dos peixes, narrada em todos os Evangelhos. Escolhemos o texto de João 6,1-14, como texto de referência. Poderá ser complementado pelos demais.
No trecho do Evangelho, Jesus tem 5 pães e dois peixes. Não é nada em comparação à multidão de milhares de pessoas, mas é tudo o que tem. E Jesus faz deles tudo: dom e mistério. O cardeal Van Thuan resumiu a sua experiência em sete pontos: 5 pães e dois peixes. Vamos segui-lo:
1º pão – Viver o momento presente. Por Cristo.
2º pão – Discernir entre Deus e as obras de Deus
3º pão - Um ponto firme: a oração
4º pão – Minha única força, a Eucaristia
5º pão – Amar até a unidade o testamento de Jesus
1º peixe – Maria
2º peixe – Escolhi Jesus

Vamos também seguir Jesus no texto: Jo 6,1-14 ( Mc 6,30-44; Mt 14,13-21; Lc 9, 10-17)

Cantos
1. Deus não está longe de cada um de nós. Nele vivemos, nos movemos e existimos (At 17,27b,28)
2. Não nos cansemos de fazer o bem. (Gl 6,9)
3.Toda língua proclame Jesus Cristo é Senhor /:para a glória de Deus Pai:/ (Fl 2,11)
4. Por tudo dai graças, por tudo dai graças, dai graças por tudo, dai graças. (1 Ts 5,18)
5. Eu sei, eu sei, eu sei, em quem acreditei. (2Tm 1,12)
6. Pela graça de Deus sou o que sou, sou o que sou pela graça de Deus. (1Cor 15,10)
7. Magnificat
A minha alma engrandece o Senhor.
Exulta meu espírito em Deus, meu Salvador.
- Pois ele lembrou de mim, sua humilde serva!
-De agora em diante todos vão me chamar de mulher abençoada,
porque o Deus Poderoso fez grandes coisas por mim.
- O seu nome é santo, e ele mostra a sua bondade a todos os que o temem em todas as gerações.
- Deus levanta a sua mão poderosa e derrota os orgulhosos com todos os planos deles.
- Derruba dos seus tronos reis poderosos e põe os humildes em altas posições.
- Dá fartura aos que têm fome e manda os ricos embora com as mãos vazias.
- Ele cumpriu as promessas que fez aos nossos antepassados e ajudou o povo de Israel, seu servo.
- Lembrou de mostrar a sua bondade a Abraão e a todos os seus descendentes, para sempre.

Primeiro pão: Viver o momento presente
Verdade: Ler o texto todo Jo 6,1-14.
Repetir: vv. 1-6.
Caminho
Um fato: O cardeal Francisco Van Thuan narra sua prisão: “Até 23 de abril de 1975 fui, por 8 anos, bispo de Nhatrang, no centro do Vietnã...Em 23 de abril de 1975, Paulo VI me promoveu a arcebispo coadjutor de Saigon. Quando os comunistas chegaram a Saigon me disseram que essa nomeação era fruto de um complô entre o Vaticano e os imperialistas, para organizar a luta contra o regime comunista. Três meses depois, fui chamado ao palácio presidencial para ser preso: era o dia da Assunção da Santíssima Virgem, 15 de agosto de 1975.
Naquela noite, numa longa estrada de 450 km que leva ao lugar de minha residência obrigatória, tantos pensamentos confusos vieram à minha mente: tristeza, abandono, cansaço, depois de 3 meses de tensão ... Mas em minha mente surgiu clara uma palavra que dispersou toda a escuridão, a palavra que monsenhor John Walsh, bispo missionário na China, pronunciou quando foi libertado depois de 12 anos de prisão: "Passei metade de minha vida a esperar". É bem verdade: todos os presos, eu também, esperam a cada minuto sua libertação. Mas depois decidi: "Não esperarei. Vivo o momento presente, enchendo-o com amor".

Não é uma inspiração repentina, mas uma convicção que amadureci durante toda a vida. Se passo o meu tempo a esperar, talvez as coisas que espero não aconteçam mais. A única coisa que certamente acontecerá é a morte.

Na aldeia de Cây-Vông, que me foi indicada como residência obrigatória, sob a vigilância aberta e oculta da polícia "disfarçada" no meio do povo, noite e dia sentia a obsessão pelo pensamento: Povo meu! Povo meu que amo tanto: rebanho sem pastor! Como posso entrar em contato com meu povo, exatamente no momento em que precisa mais de seu pastor? As livrarias católicas foram confiscadas, as escolas fechadas; as freiras, os religiosos ligados ao ensino vão trabalhar nas lavouras de arroz. A separação é um choque que destrói o meu coração. "Não esperarei. Vivo o momento presente, cheio de amor. Mas como?"

Numa noite vem uma luz: "Francisco, é muito simples; faça como São Paulo quando estava preso: escrevia cartas a várias comunidades". Na manhã seguinte, em outubro de 1975, fiz sinal a uma criança de 7 anos, Quang, que voltava da missa às 5, ainda no escuro: "Diga a sua mãe para comprar velhos blocos de calendário". Tarde da noite, de novo no escuro, Quang me trouxe os calendários, e em todas as noites de outubro e de novembro de 1975 escrevia a meu povo minha mensagem do cativeiro. Todas as manhãs o menino vinha recolher as folhas para levá-las a sua casa, e fazer recopiar a mensagem por seus irmãos. Assim foi escrito o livro O caminho da esperança, publicado em 8 línguas. Escrevia sempre à noite, e em segredo. “Não esperarei. Vivo o momento presente, enchendo-o de amor”.

Os bispos da América Latina, na V Conferência, em Aparecida, disseram:
“Jesus, no início de seu ministério, escolhe os doze para viver em comunhão com Ele (cf. Mc 3,14). Para favorecer a comunhão e avaliar a missão, Jesus lhes pede: “Venham só a um lugar desabitado, para descansar um pouco” (Mc 6,31-320. Em outras oportunidades Jesus se encontrará com eles para lhes explicar o mistério do Reino (cf. Mc 4,11.33-34). Jesus age da mesma maneira com o grupo dos setenta e dos discípulos (cf. Lc 10,17-20). Ao que parece, o encontro a sós indica que Jesus quer lhes falar ao coração (cf. Os 2,14). Também hoje o encontro dos discípulos com Jesus na intimidade é indispensável para alimentar a vida comunitária e a atividade missionária.(DAp 154).
Vida
Os apóstolos queriam escolher o caminho mais fácil: “Senhor, deixa a multidão partir para que possa encontrar alimento”. Mas, Jesus quer agir no momento presente: “Dai-lhes vós de comer”.
Disse João Paulo II: “A humanidade encontra-se muito incerta, confusa e preocupada (Mt 9,36), mas a palavra de Deus não desaba: percorre a história e, na mudança dos acontecimentos, permanece estável e luminosa (Mt 24,35). A fé da Igreja é fundada sobre Jesus Cristo, único salvador do mundo: ontem, hoje e sempre (Hb 13,8)" (Mensagem para a XII Jornada Mundial da Juventude, 1997, n. 2).

Oração : Por causa de Cristo

Quantos sentimentos confusos na minha cabeça:
tristeza, medo, tensão, meu coração dilacerado
por estar distanciado de meu povo. Humilhado, recordo a palavra
da Sagrada Escritura: "Foi contado entre os malfeitores”.
Jesus, enfim posso dizer como São Paulo: “Por causa de Cristo, estou na prisão" (Ef 3,1).
Se espero o momento oportuno para fazer alguma coisa verdadeiramente grande,
quantas vezes na vida se apresentarão semelhantes ocasiões?
Não, agarro as ocasiões que se apresentam a cada dia,
para realizar ações ordinárias de modo extraordinário.
Jesus, não esperarei, vivo o momento presente, enchendo-o com amor.
A linha reta é feita de milhões de pequenos pontos unidos um ao outro.
Também a minha vida é feita de milhões de segundos e de minutos unidos um ao outro.
Coloco em ordem cada ponto e a linha será reta. Vivo com perfeição cada minuto e a vida será santa.
A cada minuto quero dizer-te: Jesus, eu te amo, A cada minuto quero cantar com toda a Igreja:
Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo
Como era no princípio,agora e sempre. Amém
Segundo pão: Discernir entre Deus e as obras de Deus
Verdade: Ler o texto todo Jo 6,1-14.
Repetir: vv. 7-10.
O rapazinho do evangelho fez essa escolha, oferecendo tudo: 5 pães e 2 peixes nas mãos de Jesus, com confiança. Jesus fez "as obras de Deus", dando de comer a 5.000 homens, além de mulheres e crianças.

Caminho
Um fato: Van Thuan desejava aumentar o número de seminaristas maiores, de 42 a 147, em 8 anos; de 200 seminaristas menores para 500 em 4 seminários; formação permanente de padres de 6 dioceses da Igreja metropolitana de Hue; desenvolver e intensificar a formação de novos movimentos de jovens, de leigos e de conselhos pastorais ...
E eis que devo deixar tudo para ir logo a Saigon, por ordem do Papa Paulo VI, sem ter a oportunidade de dizer adeus a todos aqueles com os quais estive unido pelo mesmo ideal, pela mesma determinação, na partilha das provações como das alegrias, diz ele.
Naquela noite, quando gravei minha última saudação à diocese, foi a única vez em 8 anos que chorei, e chorei amargamente!
Depois as tribulações em Saigon, a detenção; fui reconduzido diretamente a minha primeira diocese de Nhatrang, na prisão mais dura, mais afastada de meu bispado. De manhã e à tarde, na obscuridade de minha cela, escuto os sinos da catedral, onde passei 8 anos, a me dilacerar o coração. À noite escuto as ondas do mar em frente à minha cela.
Depois estive no porão de um navio que levava 1.500 presos famintos, desesperados.
E no campo de reeducação, no meio de outros prisioneiros tristes e doentes, na montanha.
Sobretudo, a longa tribulação de 9 anos no isolamento, sozinho com dois guardas, uma tortura mental, no vazio absoluto, sem trabalho, caminhando dentro da cela de manhã às nove e meia da noite para não ser destruído pela artrose, no limite da loucura.

Mais vezes sou tentado, atormentado pelo fato de que tenho 48 anos, idade da maturidade. Trabalhei 8 anos como bispo, adquiri muita experiência pastoral, e eis que estou isolado, inativo, separado de meu povo, a 1.700 quilômetros de distância!

Numa noite, das profundezas de meu coração senti uma voz que sugeria: "Por que te atormentas assim? Deves distinguir entre Deus e as obras de Deus. Tudo o que realizaste e desejas continuar a fazer: visitas pastorais, formação dos seminaristas, religiosos, religiosas, leigos, jovens, construção de escolas, lares para estudantes, missões para evangelização de não-cristãos... tudo isso é um trabalho excelente, são obras de Deus mas não são Deus! Se Deus quiser que abandones todas essas obras colocando-as em suas mãos, faze-o logo e tem confiança nele. Deus o fará infinitamente melhor do que tu. Confiará suas obras a outros que são muito mais capazes que tu. Escolheste somente Deus, não suas obras !"
Estava sempre preparado para fazer a vontade de Deus. Mas essa luz me traz uma força nova que muda totalmente o meu modo de pensar, e me ajuda a superar momentos fisicamente quase impossíveis.
Enquanto me encontro na prisão, em uma cela sem janela, um calor asfixiante, sufocante, sinto a minha lucidez diminuir pouco a pouco até a inconsciência. Às vezes a luz continua acesa noite e dia, às vezes é sempre escuridão. Há tanta umidade que os fungos crescem sobre a minha cama. N a escuridão vi um buraco debaixo do muro (para fazer escorrer a água). Por isso passei mais de cem dias agachado com o nariz colado naquele buraco para respirar. Quando chove, sobe o nível da água; pequenos insetos, pequenas rãs, minhocas e centopéias vêm do lado de fora. Deixo-os entrar, pois não tenho mais forças para afastá-las.
Escolher Deus e não as obras de Deus: Deus me quer aqui e não em outro lugar.
"Escolhe Deus e não as obras de Deus", e digo para mim: "Sem dúvida, Senhor, aqui é minha catedral, aqui é o povo de Deus que tu me deste para cuidar. Devo assegurar a presença de Deus no meio desses irmãos desesperados, miseráveis. E tua vontade portanto é a minha escolha".

Desde esse momento, uma nova paz enche meu coração, e permanece comigo 13 anos. Sinto a minha debilidade humana, renovo esta escolha frente às situações difíceis, e a paz não me faltou mais.
João Paulo II disse: "Como os primeiros discípulos, sigam Jesus! Não tenham medo de aproximar-se dele ... Não tenham medo da 'vida nova' que ele lhes oferece: ele mesmo lhes dá a possibilidade de acolhê-Ia e de colocá-Ia em prática, com a ajuda de sua graça e o dom de seu espírito" (Mensagem para a XII Jornada Mundial da Juventude, 1997, n. 3).

Vida
Oração: Deus e a sua obra
Por causa de teu amor infinito, Senhor,
me chamaste a seguir-te,
a ser teu filho e teu discípulo.
Depois me confiaste uma missão
que não se assemelha a nenhuma outra, mas com o mesmo objetivo das outras:
ser teu apóstolo e testemunha.
No entanto, a experiência me ensinou que continuo a confundir
as duas realidades:
Deus e a sua obra.
Deus me deu a realização de suas obras.
Algumas sublimes,
outras mais modestas;
algumas nobres,
outras mais comuns.
Por que os homens se apegam à tua obra?
Por que a privam de seu sustento?
Diante de teu altar, perto da Eucaristia, senti a tua resposta, Senhor:
"Sou eu aquele que segues e não minhas obras!
Se o quero entregarei a tarefa a mim confiada.
Pouco importa quem assumirá o teu lugar. É assunto meu.
Deves escolher a mim!"
Terceiro pão: Um ponto firme: a oração
Verdade: Ler o texto todo Jo 6,1-14.
Repetir: vv. 11: “Jesus tomou os pães, deus graças”.
No evangelho de João que estamos meditando, antes de realizar o milagre, antes de alimentar o povo faminto, Jesus rezou. Jesus quer ensinar-me: antes do trabalho pastoral, social, caritativo, é preciso rezar.

Caminho: Depois de minha libertação, diz o cardeal Van Thuan, muitas pessoas me disseram: "Padre, o senhor teve muito tempo para rezar na prisão". Não é assim simples como podem pensar. O Senhor me permitiu experimentar toda a minha fraqueza, minha fragilidade física e mental. O tempo passa lentamente na prisão, em particular durante o isolamento. Imaginem uma semana, um mês, dois meses de silêncio ... São terrivelmente longos, mas quando se transformam em anos, tornam-se uma eternidade. Um provérbio vietnamita diz: "Um dia na prisão é como mil outonos fora". Ali houve dias em que, reduzido ao maior cansaço, à doença, não consegui rezar uma oração!
Quando as forças me faltam e não consigo nem mesmo recitar minha oração, repito:
"Jesus, eis-me aqui, sou Francisco". Vêm alegria e consolação, e experimento que Jesus responde: "Francisco, eis-me aqui, sou Jesus".
Vocês me perguntam: quais suas orações preferidas?
Sinceramente, amo muito as orações breves e simples do evangelho:
"Não há mais vinho!" (102,3). "Magnificat ... " (Lc 1,46-55). "Pai, perdoa-lhes ... " (Lc 23,34).
"Em tuas mãos ... " (Lc 23,46). "Que sejam um, como tu, Pai, estás em mim ... " (10 17,21).
" Ó Deus, tem piedade de mim, pecador" (Lc 18,13).
"Lembra-te de mim quando estiveres no paraíso" (Lc 23,42-43).
No cárcere não pude levar comigo a Bíblia. Então ajuntei todos os pedacinhos de carta que encontrei e fiz uma minúscula agenda, na qual transcrevi mais de 300 frases do evangelho. Este evangelho reconstruído e reencontrado ficou sendo o meu vademecum cotidiano, o meu escrínio precioso para obter força e alimento através da lectio divina. Amo rezar toda a palavra de Deus... Depois as orações em minha língua nativa, que toda família reza à noite na capela da família, tão comoventes que lembram a primeira infância. Principalmente as três Ave-Marias e o Memorare (Lembrai-vos), que minha mãe me ensinava a rezar de manhã e à tarde.
Como disse, fiquei 9 anos no isolamento, isto é, somente com dois guardas. Para evitar doenças, devido à imobilidade, como a artrose, caminhava o dia todo fazendo massagens, exercícios físicos etc., rezando cânticos como Miserere, Te Deum, Veni Creator e o hino dos mártires. Inspirados na Palavra de Deus, esses cânticos me comunicam uma grande coragem para seguir a Jesus. Para apreciar essas belíssimas orações, foi necessário experimentar a obscuridade do cárcere e tomar consciência do fato que nossos sofrimentos são oferecidos pela fidelidade à Igreja. Essa unidade com Jesus, na comunhão com o Santo Padre e toda a Igreja, sinto-a de modo irresistível quando repito durante o dia: “Por ele, com ele e nele".
Vem à minha mente uma oração muito simples de um comunista, é verdade, que primeiro era um espião, mas que depois se tornou meu amigo. Antes da libertação me prometeu: "A minha casa fica a 3 quilômetros do santuário de Nossa Senhora de Lavang. Irei até lá rezar por você". Acreditei em sua amizade, mas duvidei que um comunista fosse rezar a Nossa Senhora. Eis que um dia, talvez 6 anos depois, enquanto estava no isolamento, recebi uma carta dele! Escrevia: "Caro amigo, prometi ir rezar a Nossa Senhora de Lavang por você. Faço-o todos os domingos, se não chove. Pego minha bicicleta quando escuto tocar o sino. A basílica foi inteiramente destruída pelo bombardeio, então vou ao monumento da aparição que permanece ainda intacto. Rezo por você assim: Senhora, não sou cristão, não conheço as orações, peço-te dar ao senhor Thuan o que ele deseja". Fiquei comovido no profundo de meu coração. Certamente Nossa Senhora o escutará.
Vida
Breves orações evangélicas
Penso, Senhor, que tu me deste um modelo de oração.
Para dizer a verdade,
me deixaste somente um: o Pai-nosso.
É breve, conciso e denso.
A tua vida, Senhor, é uma oração, sincera e simples,
voltada para o Pai.
Aconteceu que a tua oração foi longa, sem fórmulas feitas,
como a oração sacerdotal depois a Ceia:
ardente e espontânea.
Mas habitualmente, Jesus, a Virgem, os apóstolos usaram orações breves,
mas muito belas que eles associavam a sua vida cotidiana.
Eu que sou fraco e tíbio, amo estas breves orações
diante do Tabernáculo, na escrivaninha, pela estrada, sozinho.
Quanto mais as repito, mais me sinto penetrado. Torno-me vizinho de ti, Senhor.
Pai, perdoa-lhes,
porque não sabem aquilo que fazem.
Lembra-te de mim,
quando estiveres em teu Reino.
Senhor, tu sabes tudo,
Tu sabes que te amo.
Senhor, tem piedade de mim, pobre pecador.
Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?

Todas essas breves orações, ligadas uma à outra, formam uma vida de oração. Como uma cadeia de gestos discretos, de olhares, de palavras íntimas formam uma vida de amor. Elas nos conservam em um ambiente de oração sem distorções do dever presente, mas ajudando-nos a santificar todas as coisas.
Quarto pão: Minha única força, a Eucaristia
Verdade: Jo 6,11-12
Caminho:
"Ao redor da mesa eucarística se realiza e se manifesta a harmoniosa unidade da Igreja, mistério de comunhão missionária, na qual todos se sentem filhos e irmãos." (João Paulo lI, Mensagem para a XII Jornada Mundial da Juventude, 1997, n. 7)

"Você pôde celebrar a missa na prisão?", é a pergunta que muitos me fazem na maioria das vezes. E têm razão: a eucaristia é a mais bela oração, é a culminância da vida de Jesus. Quando respondo: "sim", logo surge a pergunta seguinte: "Como pôde encontrar o pão e o vinho?"
Quando fui preso, tive de viajar logo, de mãos vazias. No dia seguinte me foi permitido escrever para arranjar as coisas mais necessárias: roupas, dentifrício ... Escrevi a meu destinatário: "Por favor, mande-me um pouco de vinho, como remédio contra o mal de estômago". Os fiéis compreendem o que significa: mandam-me uma pequena garrafa de vinho de missa, com o rótulo "remédio contra o mal de estômago", e hóstias escondidas em um frasco contra a umidade. A polícia me perguntou:
- Você tem mal de estômago?
-Sim.
- Aqui está um pouco de remédio para você.
Não poderei nunca exprimir a minha grande alegria: todos os dias, com três gotas de vinho e uma gota de água na palma da mão, celebro a minha missa.
De qualquer maneira, dependia da situação. No navio que nos levava para o norte, celebrei durante a noite e, avisados, os presos estavam em torno de mim. Às vezes tenho de celebrar quando todos vão tomar banho depois da ginástica. No campo de reeducação estávamos divididos em grupos de 50 pessoas: dormíamos em cama comum, cada um com direito a 50 cm. Demos um jeito de tal modo que havia cinco católicos comigo. Às 2lh30min era preciso apagar a luz e todos deviam dormir. Inclino-me sobre a cama para celebrar a missa, de cor, e distribuo a comunhão, passando a mão debaixo do mosquiteiro. Fabricávamos saquinhos com o papel dos maços de cigarros, para conservar o Santíssimo Sacramento. Jesus eucarístico está sempre comigo no bolso da camisa.
Lembro-me de que escrevi: "Crê em uma só força: a eucaristia, o Corpo e o Sangue do Senhor que te dará a vida. 'Vim para que tenham a vida e a tenham em abundância' (Jo 10,10). Como o maná alimentou os israelitas em sua viagem para a Terra Prometida, assim a Eucaristia te alimentará em teu caminho da esperança" (cf. Jo 6,50) (O caminho da esperança, n. 983).
Toda semana há uma sessão de doutrinação, da qual todo o campo deve participar. No momento do intervalo, com os meus companheiros católicos, aproveitamos para passar um pacotinho a cada um dos outros quatro grupos de prisioneiros: todos sabem que Jesus está no meio deles, é ele que cuida dos sofrimentos físicos e mentais. À noite, os prisioneiros se revezam nos turnos de adoração. Jesus eucarístico ajuda de modo tremendo com a sua presença silenciosa. Muitos cristãos retomam ao fervor da fé durante aqueles dias. Até budistas e outros não-cristãos se convertem. A força do amor de Jesus é irreversíve1. A obscuridade do cárcere se ilumina, a semente germinou da terra durante a tempestade.
Ofereço a missa, unido ao Senhor: quando distribuo a comunhão entrego-me juntamente ao Senhor para fazer de mim alimento para todos. Isso significa que estou totalmente a serviço dos outros.
Todas as vezes que ofereço a missa tenho a oportunidade de estender as mãos e de me pregar na cruz com Jesus, de beber com ele o cálice amargo.
Todos os dias, lendo e ouvindo as palavras da consagração, confirmo de todo o coração e com toda a alma um novo pacto, um pacto eterno entre mim e Jesus, mediante o seu Sangue misturado ao meu (1 Cor 11, 23-25).
Jesus na cruz iniciou uma revolução. A revolução de vocês deve começar na mesa eucarística e daí ser levada para a frente. Assim vocês poderão renovar a humanidade.

Passei 9 anos no isolamento. Durante esse período celebrei a missa todos os dias pelas 3 horas da tarde: a hora de Jesus agonizante na cruz. Estou só, posso cantar a minha missa como quero, em latim, francês, vietnamita ... levo comigo o saquinho que contém o Santíssimo Sacramento: "Tu em mim e eu em ti". São as mais belas missas de minha vida.
Vida
Presente e passado
Jesus amantíssimo,
nesta noite, no fundo de minha cela sem luz, sem janela,
quentíssima, penso com intensa nostalgia na minha vida pastoral.
Oito anos de bispo, nesta residência,
somente a dois quilômetros de minha cela de prisão,
na mesma estrada, na mesma praia ... Sinto as ondas do Pacifico,
os sinos da catedral.
- Já celebrei com patena e cálice dourados, agora, com teu sangue na palma de minha mão.
- Já percorri o mundo para conferências e reuniões,
agora estou recluso numa cela estreita, sem janela.
- Já fui visitar-te no tabernáculo,
agora levo-te, dia e noite, comigo em um bolso.
- Já celebrei a missa diante de milhares de fiéis,
agora na escuridão da noite, passando a comunhão debaixo do 111Osquiteiro.
- Já preguei os exercícios espirituais aos padres, aos religiosos, aos leigos ... agora um padre, também ele prisioneiro, me prega os Exercícios de santo Inácio através da greta de madeira.
- Já dei a bênção solene com o Santíssimo na catedral,
agora faço a adoração eucarística todas as noites às 21 horas, no silêncio, cantando baixinho o "Tantum Ergo ",
a "Salve, Rainha ", e concluindo com esta breve oração: "Senhor, estou contente em aceitar tudo de tuas mãos, todas as tristezas, os sofrimentos, as angústias, até a minha morte.
Amém".
Sou feliz aqui nesta cela, sobre a esteira de palha mofada crescem fungos brancos,
porque tu estás comigo, porque tu queres que eu viva aqui contigo.
Falei muito em minha vida, agora não falo mais.
É a tua vez, Jesus, de falar-me. Escuto-te: que coisa me sussurraste? É um sonho?
Tu não me falas do passado, do presente, não me falas de meu sofrimento, angústia ... Tu me falas de teus projetos, de minha missão.
Então eu canto a tua misericórdia,
na obscuridade, na minha fragilidade, no meu aniquilamento.
Aceito a minha cruz e cravo-a, com minhas duas mãos, em meu coração.
Se me permitisses escolher, não mudaria porque tu estás comigo!
Não tenho mais medo, entendi, te sigo em tua paixão e em tua ressurreição.
Quinto pão: Amar até a unidade o mandamento de Jesus
Verdade: Jo 6,9: “Está aqui um menino que tem cinco pães de cevada e dois peixes; porém, o que é isso para tanta gente?”
Caminho
"Caríssimos jovens, vocês são chamados a ser testemunhas verídicas do evangelho de Cristo, que faz novas todas as coisas ... Tenham amor uns aos outros." (João Paulo lI, Mensagem para a XII Jornada Mundial da Juventude, 1997, n. 8)

Diz o cardeal VanThuan: Numa noite em que estou doente, na prisão de Phú Khánh, vejo passar um policial e grito: "Por caridade, estou muito doente, me dê um pouco de remédio!". Ele responde: "Aqui não há caridade nem amor, somente responsabilidade" .
Essa é a atmosfera que respiramos na prisão.
Quando fui colocado no isolamento, fui confiado a um grupo de cinco guardas: dois deles estão sempre comigo. Os chefes os mudam de duas em duas semanas com os de outro grupo, para que não sejam "contaminados" por mim. Depois decidiram não mudar mais, pois de outra forma todos ficariam contaminados!
No início, os guardas não falavam comigo, respondiam somente "yes" e "no". É muito triste; quero ser gentil, cortês com eles, mas é impossível, evitam falar comigo. Não tenho nada para lhes dar de presente: sou prisioneiro, todas as roupas são marcadas com grandes letras "cai-tao", isto é, "campo de reeducação". Que devo fazer?
Uma noite, me vem um pensamento:
"Francisco, tu és ainda muito rico. Tens o amor de Cristo em teu coração. Ama-os como Jesus te ama". No dia seguinte, comecei a amá-los, a amar Jesus neles, sorrindo, trocando palavras gentis. Começo a contar histórias de minhas viagens ao exterior, como vivem os povos na América, Canadá, Japão, Filipinas, Cingapura, França, Alemanha ... a economia, a liberdade, a tecnologia. Isso estimulou a curiosidade dos guardas, e os excitou a perguntar-me muitas outras coisas. Pouco a pouco nos tornamos amigos. Querem aprender línguas estrangeiras, francês, inglês ... Os meus guardas se tornam meus alunos! A atmosfera da prisão mudou muito. A qualidade de nosso relacionamento melhorou muito.
Até com os chefes da polícia. Quando viram a sinceridade de meu relacionamento com os guardas, não só pediram para continuar a ajudá-los no estudo de línguas estrangeiras, mas ainda me mandaram novos estudantes. Um dia um cabo me pergunta:
- "O que você pensa do jornal 'O católico'?"
- Este jornal não fez bem nem aos católicos e nem ao governo, antes alargou o fosso de separação.
- Porque se expressa mal; usam maios vocábulos religiosos e falam de maneira ofensiva. Como remediar essa situação?
- Primeiro, é preciso entender exatamente o que significa tal palavra, tal terminologia religiosa ...
- Você pode ajudar-nos?
- Sim, proponho-lhes escrever um vocabulário de linguagem religiosa de A a Z. Quando vocês tiverem um momento livre, lhes explicarei. Espero que assim possam compreender melhor a estrutura, a história, o desenvolvimento da Igreja, as suas atividades ...
Deram-me papel, e escrevi esse vocabulário de 1.500 palavras, em francês, inglês, italiano, latim, espanhol, chinês, com explicações em vietnamita. Assim, pouco a pouco, com a explicação, minhas respostas às perguntas sobre a Igreja, e aceitando também as críticas, esse documento se torna "uma catequese prática". Há muita curiosidade por saber o que é um abade, um patriarca; qual a diferença entre ortodoxos, católicos, anglicanos, luteranos; de onde provêm os recursos financeiros da Santa Sé ... Esse diálogo sistemático de A a Z ajuda a corrigir muitas confusões, muitas idéias preconceituosas; torna-se dia a dia mais interessante, até mesmo fascinante.
Naquela época ouvi que um grupo de 20 jovens da polícia estudava latim com um ex-catequista, para estar em condições de entender os documentos eclesiásticos. Um de meus guardas pertence a esse grupo. Um dia me pergunta se posso ensinar-lhe um cântico em latim.
- São tantos e tão belos, respondi-lhe.
- Você canta e eu escolho, propôs.
Cantei a Salve, Regina, Veni Creator, Ave maris stella ... Podem adivinhar que canto escolheu? O Veni Creator. Não posso dizer quanto é comovente escutar todas as manhãs um policial comunista descendo pela escada de madeira, pelas 7 horas, para fazer ginástica, e depois lavar-se, cantando o Veni Creator na prisão. Quando há amor, sentem-se a alegria e a paz, porque Jesus está no meio de nós: "Veste uma só camisa e fala uma única linguaagem: a caridade" (O caminho da esperança, n.984).
Na montanha de Vifih Phú, na prisão de Vifih Quang, num dia de chuva tive de cortar lenha. Perguntei ao guarda:
- Posso-lhe pedir um favor?
- O que é? Eu o ajudarei.
- Queria cortar um pedaço de madeira em forma de cruz.
- Você não sabe que é severamente proibido ter qualquer símbolo religioso?
- Eu sei. Mas somos amigos, e prometo escondê-la.
- Seria extremamente perigoso para nós dois.
- Feche os olhos, farei agora e serei muito cauteloso. Você vai andando e me deixe só.
Talhei a cruz e a conservei escondida num pedaço de sabão até a minha libertação. Com uma moldura de metal, esse pedaço de madeira tornou-se minha cruz peitoral.
Em outra prisão pedi um pedaço de fio elétrico a meu guarda, que já se tornara meu amigo. Ele se espantou:
- Estudei na escola de polícia que, se alguém quer um fio elétrico, significa que quer suicidar-se.
Expliquei:
- Os sacerdotes católicos não cometem suicídio.
- Mas que coisa quer fazer com um fio elétrico?
- Queria fazer uma correntinha para levar a minha cruz.
- Como pode fazer uma corrente com um fio elétrico? É impossível!
- Se você me trouxer duas pequenas tenazes (alicates), eu mostrarei.
- É muito perigoso!
- Mas somos amigos!
Hesitou, depois disse:
- Responderei dentro de três dias. Depois de três dias, me disse:
- É difícil recusar qualquer coisa a você.
Pensei assim: nesta noite vou trazer duas pequenas tenazes, das 7 às 11, e nesse tempo devemos terminar esse trabalho. Vou deixar meu companheiro ir a "Hanoi by night". Se ele nos visse, surgiria uma denúncia perigosa para nós ambos. Cortamos o fio elétrico em pedaços do tamanho de um fósforo, o moldamos ... e a corrente ficou pronta antes das 11 horas da noite. Aquela cruz e aquela corrente levo comigo todos os dias, não porque são lembranças da prisão, mas porque indicam minha convicção profunda, uma constante exigência para mim: só o amor cristão pode mudar os corações, nem as armas, nem as ameaças, nem a mídia.
Foi muito difícil para meus guardas entender como se pode perdoar, amar os nossos inimigos, reconciliar-se com eles.
- Você nos ama verdadeiramente?
- Sim, os amo sinceramente.
- Mesmo quando lhe fazemos mal? Quando sofre por estar em prisão por tantos anos injustamente?
- Pense nos anos em que vivemos juntos. Amei-os realmente!
- Quando você estiver livre, não mandará os seus para nos fazer mal, a nós e a nossas famílias?
- Não, continuarei a amá-los, mesmo se quiserem matar-me.
- Mas por quê?
- Porque Jesus me ensinou a amá-los. Se não o faço, não sou mais digno de ser chamado cristão.
Vida
Cosagração
Pai de imenso amor e onipotente, fonte de minha esperança e de minha alegria.
1. "Tudo que é meu é teu" (Lc 15,31).
"Pedi e vos será dado" (Mt 7,7).
Pai, creio firmemente: o teu amor nos ulltrapassa infinitamente. Como pode o amor de teus filhos competir com o teu?
Oh! Imensidade de teu amor paterno! Tudo que é teu é meu. Aconselhaste-me a rezar com sinceridade. Então confio em ti, Pai, plenitude de bondade.

2. "Tudo é graça." "O vosso Pai sabe de que coisas precisais" (Mt 6,8).
Pai, firmemente creio: ordenas todas as coisas para o nosso maior bem, sempre. Não cesses de guiar a minha vida. Acompanha cada um de meus passos. Que coisa poderei temer? Prostrado, adoro a tua santa vontade. Entrego-me totalmente a tuas mãos, é por teu intermédio que tudo acontece. Eu que sou teu filho, creio que tudo é graça.

3. "Tudo posso naquele que me dá força" (Fl4,13). "Em louvor de sua glória" (Ef 1,6).
Pai, firmemente creio: nada ultrapassa o poder de tua Providência. O teu amor infinito, e eu quero aceitar tudo de coração feliz. Eternos o louvor e o reconhecimento. Unidos à Virgem Maria, associando suas vozes aos de todas as nações, São José e os anjos cantam a glória de Deus pelos séculos dos séculos. Amém.

4. "Fazei tudo para a glória de Deus" (lCor 10,31). "Seja feita a tua vontade" (Mt 6,10).
Pai,firmemente e sem hesitação creio que tu ages e operas em mim. Sou objeto de teu amor e de tua ternura. Tudo que posso dar-te, realiza-o com ainda mais louvor em mim! Só procuro a tua glória, esta basta para minha satisfação e minha felicidade. Esta é a minha aspiração maior, o desejo urgente da alma.

5. "Tudo para a missão! Tudo para a Igreja.
Pai,firmemente creio: entreguei-me a uma missão, marcada toda por teu amor. Prepara-me o caminho. Não cesso de purificar-me e de me ancorar na resolução.
Sim, estou decidido: tornar-me-ei uma silenciosa oferta, servirei de instrumento nas mãos do Pai. Consumarei o meu sacrifício, instante a instante, por amor à Igreja: "Eis-me aqui, estou pronto!".

6. "Desejei ardentemente comer esta páscoa convosco" (Lc 22,15). "Tudo está consumado" (Jo 19,30).
Pai amantíssimo! Unido ao santo Sacrifício que continuo a oferecer, ajoelho-me neste instante e por ti pronuncio a palavra que sai de meu coração: "Sacrifício". Um sacrifício que aceita a humilhação como a glória, um sacrifício gozoso, um sacrifício integral... Canta a minha esperança e todo o meu amor.
1º peixe – Maria
Verdade: Maria vive completamente para Jesus. A sua missão foi compartilhar a sua obra de redenção. A vida de Maria se resume em três palavras: “Eis a escrava do Senhor” (Lc 1,38), “Faça-se em mim segundo a tua Palavra (Lc 1,38) e “Minha alma engrandece o Senhor” (Lc 1,46).
Caminho
Maria tem uma função especial em minha vida. Fui preso a 15 de agosto de 1975, festa da Assunção de Maria. Parti no carro da polícia, de mãos vazias, sem uma moeda no bolso, só com o rosário, e estava em paz. Naquela noite, na longa estrada de 450 quilômetros, rezei mais vezes o Lembrai-vos.

Poderiam perguntar-me como Maria me ajudou a superar tão grandes provas em minha vida. Vou contar-lhes alguns episódios que permanecem ainda muito vivos em minha memória.
Quando já sacerdote estudava em Roma, uma vez, em setembro de 1957, fui à gruta de Lourdes para rezar a Nossa Senhora. A palavra dirigida a Santa Bernadete pela Imaculada me pareceu destinada também a mim:
"Bernadete, não te prometo alegrias e consolações nesta terra, mas provações e sofrimentos". Não sem medo aceitei essa mensagem. Depois de conseguir a licenciatura, voltei para o Vietnã como professor, depois reitor do seminário, vigário geral, e bispo de Nhatrang em 1967. Poderíamos dizer que o meu ministério pastoral foi coroado de sucesso, graças a Deus. Voltei a rezar na gruta de Lourdes. Veio o ano de 1975, a detenção, a prisão, o isolamento, mais de 13 anos no cativeiro. Agora entendo que Nossa senhora quis preparar-me desde 1957.
Quando as misérias físicas e morais, no cárcere, tornam-se muito pesadas e me impedem de rezar, digo então a Ave-Maria, repito centena de vezes a Ave-Maria. Ofereço tudo pelas mãos da Imaculada, pedindo-lhe distribuir graças a todos que precisam na Igreja. Tudo com Maria, por Maria e em Maria.
Não somente rezo a Maria, pedindo-lhe a intercessão, mas freqüentemente lhe rogo:
"Mãe, que posso fazer por ti? Estou pronto a cumprir tuas ordens, a realizar tua vontade para o reino de Jesus". Então uma paz imensa invade o meu coração, não tenho mais medo.
Quando rezo a Maria, não posso mais esquecer São José, seu esposo: é um desejo de Maria e de Jesus, que se tenha um grande amor a São José, com títulos especialíssimos.

Maria Imaculada não me abandonou. Tem me acompanhado ao longo de toda a marcha nas trevas do cárcere. Naqueles dias de provações indizíveis, rezei a Maria com toda simplicidade e confiança: "Mãe, se tu vês que não poderei mais ser útil à Igreja, concede-me a graça de terminar a minha vida na prisão. Mas se tu, ao invés, sabes que poderei ainda ser útil a tua Igreja, concede-me sair da prisão no dia de uma tua festa!"
Num dia de chuva, ouço tilintar o telefone do guarda. "Talvez um telefonema para mim! É verdade, hoje é 21 de novembro, festa da Apresentação de Maria no Templo!"
Cinco minutos depois, chega o meu guarda:
- Senhor Thuan, já comeu?
- Não, estou ainda preparando a comida.
- Depois de comer, vista-se bem e vá ver o chefe.
- Quem é o chefe?
- Não sei, mas disseram para avisá-lo. Boa sorte!
Um automóvel me levou a um palácio, onde encontrei o Ministro do Interior, isto é, da Polícia. Depois das saudações de cortesia, me perguntou:
- Você tem um desejo a expressar?
- Sim, quero a liberdade.
-Quando?
-Hoje.
Ficou muito surpreso. Explico:
- Excelência, estou na prisão há bastante tempo; sob três pontificados, de Paulo VI, de João Paulo I e de João Paulo lI. E além disso, sob quatro secretários-gerais do Partido Comunista soviético: Brejnev, Andropov, Chernenko e Gorbachev!
Ele começou a rir e fez sinal com a cabeça:
- É verdade, é verdade!
E voltando-se para o seu secretário, disse:
- Faça o necessário para atender ao seu desejo.
Habitualmente os chefes precisam de tempo para despachar as formalidades. Mas naquele momento pensei: "Hoje é a festa de Nossa Senhora da Apresentação. Maria me liberta. Obrigado, Maria".

Vida
Oração de consagração a
Maria, minha Mãe
Maria, minha Mãe, Mãe de Jesus, Mãe nossa,
por sentir-me unido a Jesus e a todos os homens, meus irmãos,
quero chamar-te Mãe nossa.
Vem viver em mim, com Jesus, teu amadíssimo Filho,
esta mensagem de renovação total, no silêncio e na vigília,
na oração e na oferta,
na comunhão com a Igreja e com a Trindade,
no fervor de teu 'Magnificat',
unido a José, teu santíssimo esposo,
no teu humilde e amoroso trabalho para cumprir o testamento de Jesus,
no teu amor por Jesus e por José,
pela Igreja e pela humanidade,
na tua fé inabalável no meio de tantas provações,
suportadas pelo Reino,
na tua esperança, que ininterruptamente age em construir um mundo novo
de justiça e de paz, de felicidade e de verdadeira ternura,
na perfeição de tuas virtudes,
no Espírito Santo,
para tornar-te testemunha da Boa-Nova, apóstola do evangelho.
Em mim, ó Mãe, continua a operar, a rezar, a amar, a sacrificar-me.
Continua a cumprir a vontade do Pai, continua sendo a Mãe da humanidade.
Continua vivendo a paixão
e a ressurreição de Jesus.
Ó Mãe, consagro-me a ti, todo a ti, agora e sempre.
Vivendo no teu espírito e no de José, eu viverei no espírito de Jesus,
com Jesus, José, com os anjos e santos e todas as almas.
Amo-te, ó Mãe nossa, e compartilharei tua fadiga,
tua preocupação e teus combates pelo reino do Senhor Jesus. Amém
2º peixe – Escolhi Jesus
Verdade: Jo 6, 14-15
Caminho
"Uma mensagem que vocês são chamados a acolher e a gritar a seus contemporâneos: 'O homem é amado por Deus! O homem é amado por Deus! É este simplicíssimo e perturbador anúncio do qual a Igreja é devedora do homem' (Christifideles laici, n. 34)."
Falei-lhes de minhas experiências no seguimento de Jesus, para encontrá-lo, viver ao lado dele e em seguida levar sua mensagem a todos. Vocês me perguntarão: como colocar em prática a união total com Jesus em uma vida ferida por tantas mudanças? Não o esconderei de vocês, mas para clareza escrevo-lhes de novo o meu segredo! (cf. O Caminho da esperança, n. 979-1001).
No início de cada parágrafo estão anotados os números de 1 a 24: quero fazê-los compreender às horas do dia. Em cada número, repeti a palavra "um": uma revolução, uma campanha, um slogan, uma força ... São coisas muito práticas. Se vivemos 24 horas radicalmente por Jesus, seremos santos. São 24 estrelas que iluminam o seu caminho de esperança.

Não lhes explico esses pensamentos, convido-os a meditá-los serenamente como se fosse Jesus a falar docemente, intimamente a seus corações. Não tenham medo de escutá-lo, de falar com ele. Não hesitem, releiam-no a cada semana. Verão que a graça resplandecerá, transformando a sua vida.

1. Quer realizar uma revolução: renovar o mundo. Você poderá cumprir essa preciosa e nobre missão, que Deus lhe confiou, só com "o poder do Espírito Santo". Cada dia, ali onde vivi, preparava um novo Pentecostes.

2. Empenhar-se em uma campanha que tem a finalidade de tornar todos felizes Sacrifique-se, continuamente, com Jesus para levar a paz às almas, desenvolvimento e prosperidade aos povos. Tal será a espiritualidade, discreta e concreta ao mesmo tempo.

3. Permaneça fiel ao ideal do apóstolo: "Dar a vida pelos irmãos". Sem dúvida, "ninguém tem maior amor do que este" (1015,13). Gaste, sem susto, todas as suas energias e esteja pronto a dar-se a si mesmo para conquistar o seu próximo para Deus.

4. Grite um único slogan: "Todos um", isto é, unidade entre os católicos, unidade entre os cristãos e unidade entre nações. "Como Pai e o Filho são um" (cf. Jo 17,22-23).

5. Creia em uma só força: a eucaristia, o corpo e sangue do Senhor que lhe dará a vida:

"Vim para que tenham a vida e a tenham em abundância" (10 10,10). Como o maná alimentou os israelitas em sua viagem para a terra prometida, assim a eucaristia o nutrirá no seu caminho da esperança (cf. Jo 6,50).

6. Vista uma só camisa e fale uma só linguagem: a caridade. A caridade é o sinal que você é um discípulo do Senhor (cf. Jo 13,35). É o distintivo menos custoso, mas é mais difícil de se encontrar. A caridade é a "língua" principal. São Paulo a julgava muito mais preciosa do que "falar a língua dos homens e dos anjos" (lCor 13,1). Será a única língua que sobreviverá no céu.

7. Atente firmemente a um único princípio diretor: a oração. Ninguém é mais forte que a pessoa que reza porque o Senhor prometeu conceder tudo àqueles que rezam. Quando estão unidos na oração, o Senhor está presente entre vocês (cf. Mt 18,20). Aconselho-os de todo o coração: além do tempo da oração "oficial", tirem diariamente uma hora, ou melhor, duas, se podem, para a oração pessoal. Asseguro-lhes que não haverá tempo esbanjado. Na minha experiência, em todos esses anos, vi confirmadas as palavras de Santa Teresa de Á vila: "Quem não reza não precisa que o demônio o lance fora do caminho. Lançar-se-á por si mesmo no inferno".

8. Observe uma só regra: o evangelho. Esta constituição é superior a todas as outras. É a regra que Jesus deixou aos apóstolos (cf. Mt 4,23). Não é difícil, complicada ou legalística como as outras. Ao contrário é dinâmica, gentil e estimulante para a sua alma! Um santo distante do evangelho é um santo falso!

9. Siga lealmente um só chefe: Jesus Cristo e seus representantes: O Santo Padre, os bispos, sucessores dos apóstolos (cf. Jo 20,22). Viver e morrer pela Igreja como fez o Cristo. Não crer que seja só o morrer pela Igreja que exige sacrifício: também o viver pela Igreja o exige muito.

10. Cultive um amor especial por Maria. São João Maria Vianney confiava: "Depois de Jesus, meu primeiro amor é por Maria". Se a escutarem, não perderão o caminho. Em qualquer coisa que empreendam em seu nome, não fracassarão. Honrem-na e alcançarão a vida eterna.

11. A sua única sabedoria será a ciência da cruz (cf. 1Cor 2,2). Olhe para a cruz e encontrará a solução para todos os problemas que o atormentam. Se a cruz é o critério no qual se baseiam suas escolhas e suas decisões, a sua alma estará em paz.

12. Conserve um só ideal: estar voltado para Deus Pai, um Pai que é todo amor. Toda a vida do Senhor, todo o seu pensamento e ação tinham um só objetivo: "Que o mundo saiba que eu amo o Pai e faço o que o Pai me
mandou" (10 14,31), e: "Eu faço sempre as coisas que lhe agradam" (10 8,29).

13. Há só um mal que deve temer: o pecado. Quando a corte do imperador do Oriente se reuniu para discutir a punição a ser infligida a São João Crisóstomo pela franca denúncia dirigida à imperatriz, foram sugeridas as seguintes possibilidades:
a) lançá-lo na prisão; "mas - diziam - ali terá a oportunidade de rezar e de sofrer pelo Senhor, como sempre desejou";
b) exilá-lo; "mas, para ele, não há lugar onde o Senhor não esteja";
c) condená-lo à morte; "mas assim se tornará um mártir e satisfará sua aspiração de ir para o Senhor". "Nenhuma dessas possibilidades constitui para ele uma pena; ao contrário a aceitará com alegria."
d) há uma só coisa que ele teme muito e que odeia com todo o seu ser: o pecado; "mas seria impossível forçá-lo a cometer um pecado!"
Se temerem o pecado, sua força será incomparável.

14. Cultive só um desejo: "Venha o teu reino. Seja feita tua vontade assim na terra como
no céu" (Mt 6,10). Que na terra os povos possam conhecer Deus como é conhecido no céu; que nesta terra cada um comece a amar os outros como no céu; que também na terra esteja a felicidade que está no céu. Esforcem-se por defender esse desejo. Comecem agora a levar a cada um neste mundo a felicidade do céu.

15. Falta uma só coisa: "Vai, vende o que tens, e dá-os aos pobres e terás um tesouro no céu; depois vem e segue-me" (Mc 10,21), isto é, deve decidir-se uma vez por todas. O Senhor quer voluntários, livres de qualquer apego.

16. Para o seu apostolado, use o único método eficaz: o contato pessoal. Com ele entre na vida dos outros, compreenda-os e os ame. As relações pessoais são mais eficazes que as pregações e os livros. O contato entre as pessoas e o intercâmbio "coração a coração" são o segredo da duração de seu apostolado e do sucesso deste.

17. Só uma coisa é verdadeiramente importante: "Maria escolheu a melhor parte", quando se assentou aos pés do Senhor (cf. Lc 10,41-42). Se não há uma vida interior, se Jesus não é verdadeiramente a alma de sua atividade, então ... mas você sabe bem tudo, não é preciso repetir-lhe isso.

18. O seu único alimento: "A vontade do Pai" (10 4,34); é com ela que deve viver e crescer. As suas ações devem proceder da vontade de Deus. Ela é como um alimento que o fará viver mais forte e feliz. Se vive longe da vontade de Deus, morrerá.

19. Para você, o momento mais belo é o momento presente (cf. Mt 6,34; Tg 4,13-15). Viva-o plenamente no amor de Deus. A sua vida será maravilhosamente bela: é como um grande cristal formado de milhões de tais momentos. Viu como é fácil?

20. Há uma "magna carta": as bem-aventuranças (Mt 5,3-12), que Jesus pronunciou no sermão da montanha. Viva-a plenamente: experimentará uma felicidade que poderá comunicar depois a todos aqueles que encontrar.

21. Há um só objetivo importante: o seu dever. Não importa se é pequeno ou grande, porque você colabora na obra do Pai celeste. Ele estabeleceu que este seja o trabalho que você deve realizar para cumprir o seu desígnio na história (cf. Lc 2,49; Jo 17,4). Muitas pessoas inventam maneiras complicadas para praticar a virtude e então lamentam as dificuldades que decorrem dela. Mas cumprir o dever que lhe cabe é a forma mais segura e simples de ascese que possa seguir.

22. Há uma só maneira de se tornar santo: a graça de Deus e a sua vontade (cf. 1Cor 15,10). Deus não lhe deixará jamais faltar a sua graça: mas a sua vontade é bastante forte?

23. Uma só recompensa: Deus mesmo. Quando Deus perguntou a Santo Tomás de Aquino: "Escreveste bem sobre mim, Tomás: que recompensa queres?" Santo Tomás respondeu: "Somente tu, Senhor!"

24. “Tens uma pátria”: ama-a. Constrói com o teu coração e a tua mente um futuro de paz.
Vida
Oração do Brasil na missão continental
Senhor, Deus da vida e do amor,
enviastes o vosso Filho para nos libertar das forças da morte
e conduzir-nos no caminho da esperança.
Movei-nos pelo dom do vosso Espírito!
Fazei-nos discípulos, comprometidos
com o anúncio do Evangelho em nossa Pátria,
em comunhão com a Missão Continental.
Fazei-nos missionários,
caminhando ao encontro de nossos irmãos e irmãs, acolhendo a todos,
sobretudo os jovens, os afastados, os pobres, os excluídos.
Virgem Mãe Aparecida,
Intercedei junto ao vosso Filho, para que sejamos fiéis ao nosso compromisso
de discípulos missionários. Amém.

Oração
"Escolhi Jesus”
Senhor Jesus, eu te escolhi.
Sinto que tu me dizes: "Permanece em mim. Permanece em meu amor!"
Compreendo que tu queres toda a minha vida.
"Tudo! E por teu amor!"
Na trilha da esperança sigo todos os teus passos.
Teus passos errantes ao estábulo de Belém.
Teus passos inquietos na estrada do Egito.
Teus passos velozes para a casa de Nazaré.
Teus passos alegres ao sair com os pais para o Templo.
Teus passos cansados nos trinta anos de trabalho.
Teus passos solícitos nos três anos de anúncio da Boa-Nova.
Teus passos ansiosos à procura da ovelha perdida.
Teus passos dolorosos ao entrar em Jerusalém.
Teus passos solitários diante do pretório.
Teus passos pesados sob a cruz no caminho do Calvário.
Teus passos falidos; morto e sepultado
em um túmulo não teu. Espoliado de tudo, sem roupa, sem um amigo.
Abandonado até pelo teu Pai, mas sempre a teu Pai submisso.
Senhor Jesus, de joelhos, diante de ti e na tua presença no tabernáculo,
eu compreendo: não poderei escolher outra estrada,
uma outra estrada mais feliz, mesmo se na aparência,
não é das mais gloriosas.
Mas tu, amigo eterno, único amigo de minha vida não estás aí presente.
Em ti, todo o céu com a Trindade, o mundo inteiro, e a humanidade inteira.
Os teus sofrimentos são os meus.
Meus todos os sofrimentos dos homens. Minhas todas as coisas
nas quais não há paz nem alegria,
nem beleza, nem comodidade, nem amabilidade.
Minhas todas as tristezas, as desilusões, as divisões, o abandono, as desgraças.
A mim isso que é teu, porque tu tens tudo,
isso que está nos meus irmãos porque tu estás neles.
Creio firmemente em ti, porque tu deste passos triunfantes.
"Sê corajoso. Eu venci o mundo", me disseste:
caminha com passos de gigante.
Vai por toda parte do mundo, proclama a Boa-Nova,
enxuga as lágrimas de dor,
revigora os corações desencorajados,
reúne os corações divididos, abraça o mundo
com o ardor de teu amor, consome o que deve ser destruído,
deixa só a verdade, a justiça, o amor.
Meu Senhor, eu conheço a minha fraqueza!
Liberta-me do egoísmo, de minhas seguranças,
a fim de que eu não tenha medo do sofrimento que estraçalha.
Quanto sou indigno de ser apóstolo.
Torna-me forte contra as dificuldades.
Faze que não me preocupe com a sabedoria do mundo.(...)
Se me ordenas a dirigir os meus passos corajosos
em direção à cruz, eu me deixo crucificar.
Se me ordenas entrar no silêncio
de teu templo até o fim dos tempos, me envolverei nos passos da aventura.
Perdi tudo: mas tu me restarás. O teu amor estará lá
a inundar o meu coração de amor a todos.
A minha felicidade será total... É por isso que repito: Escolhi a ti. Só quero a ti e a tua glória.

Fontes: livro "Cinco pães e dois peixes" - cardeal Van Thuan - Editora Santuário
Referência: "Multiplicação dos pães" (Mc 6,30-44) - Matthias Grenzer - Paulinas


15 de agosto de 2010
 Preparado por: Irmã Patrícia Silva,fsp

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